É inevitável pensar em si sem pensar nos outros. Ao escrever este texto, por exemplo, de certo que penso nas reações geradas naqueles que o lêem; penso nas reações que gostaria que eles tivessem; penso nas reações que else gostariam que eu tivesse.
Estamos encurralados em diversos níveis de pensamentos. Geralmente, nossos pensamentos se resumem ao que é mais supérfluo, o que aparenta na superfície. Deixamos escapar a profunda relação das imagens que criamos com a própria imagem dessa criação. Assim como na figura acima, observamos tanto o que é opaco quanto o que reflete totalmemente. O que está no meio de toda a percepção é o que continuamente deixamos escapar. Por que pensamos? Pensamos que pensamos. Na metareflexão, representada pela esfera central, tudo é refletido, a esfera opaca, a esfera reflexiva, a mesa (que, por sua vez reflete as três esferas) e o próprio desenhista, o criador de toda essa imagem.
Quantas vezes nos pegamos circulando em pensamentos e pensando em círculos? Quantas vezes não sabemos diferenciar o que vemos do que queremos ver? Existe alguma diferença entre o observador NA litografia de Escher e o observador DA litografia de Escher?
É natural pensar que estamos "um nível acima" do tão capcioso desenhista que aparece NA figura (que, aliás é o próprio Escher (nossa, até quantas camadas de pensamento podemos resistir?)), assim como é comum a nossa percepção eucêntrica das coisas.
O cerne da inteligência reside em saber o que ela é de fato. Saber que sabemos. Mas será que podemos saber que sabemos que sabemos? Podemos escrever um texto que se escreve ou desenhar uma figura que se desenha?
De fato é possível desenhar uma figura que desenha a si mesma, como clama Escher pouco mais abaixo! Nosso cérebro também é humano e absorve mais facilmente o que lhe é mais cômodo. O seu obviamente foi direto às figuras antes de ler o texto e constatou que, mesmo contrariando a ordem "natural" (no caso de cima pra baixo), não resistimos à tentação das gravuras antes de queimar milhões de neurônios para interpretar cada delíneo preto (e, por que não, os espaços em branco?) que forma(m) cada letra, cada palavra e cada frase para, no fim, queimar outros benditos milhões para interpretar a língua e o significado por trás. É de um esforço reconhecedor a nossa capacidade de criar uma noção ética para a vida, a disciplina para ler os textos antes de ver as figuras, a capacidade de pensar no outro antes de si, e; por fim, de sermos vencidos por nós mesmos (ou pela nossa parte não-controlada ou não-pensante) e pensar que podemos... pensar que pensamos.
2 comentários:
interessante o texto. me fez pensar que as mãos podem se auto-lavarem como se auto-desenharem
...o maior problema de todos é ligar aquilo que pensamos com o que existe/acontece de fato, porque o comodismo vem de pensar aquilo que queremos no momento, o que convém para satisfazer, quase sempre além da esfera refletiva...
ps: Escher é mt bom
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