segunda-feira, 17 de novembro de 2008
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Nesse momento o que me ocupa se liberta. É o cheque que futuramente será preenchido por um valor que desconheço; é o sabor do biscoito que agora como; é o possível motivo que provoca um latido de cachorro em minha rua; é o próximo pensamento que agora tende a minguar. Pois eles só vivem se forem vivos dentro de mim, sem o controle meu do que é meu.
sábado, 26 de julho de 2008
REAL
segunda-feira, 14 de julho de 2008
afflictione
Sabe aquela aflição? Às vezes eu acho que sei. Faltam poucos minutos para um compromisso, ou para alguma atividade, ou para alguma coisa a se fazer que só depende de você; esse mesmo você se encontra estático em algum lugar sem previsão de se mexer para realizar seu compromisso, ou atividade, ou aquela coisa que só depende de você. Ao pensar nessa sua falta de iniciativa ou incapacidade de se ‘mover’, isso tudo em frações de segundos, esses minutos se tornam meios minutos. Esses mesmos meios minutos te fazem questionar se o culpado é você ou alguma força externa. Chega-se a primeira parte da aflição. A segunda surge logo após a primeira, em questão de meia fração de minutos dos meios minutos – temos, então, o fato consumado do seu estado estagnado. Ao se ver estagnado temos a terceira fase da aflição: o que fazer para sair desse estado? Se permanecermos parados voltamos à primeira fase da aflição, como decorrência disso, essa atividade aflitiva se torna uma simetria cíclica. Essa função matemática não é tão exata. Se em vez de continuarmos parados nos movermos, essa ação contrária de ficar parado nos leva ao mesmo estado de aflição. Acabo por me sentir dentro de uma jaula (com a porta aberta), onde penso “se ficar o bicho come se correr o bicho pega”. E, se talvez, fechar a jaula, o temível bicho não entra e permaneço vivo. Talvez ela não tenha cadeado. Talvez o bicho nem exista. Talvez essa aflição não passe só do fato de, às vezes, esquecer que sou apenas humano.
segunda-feira, 5 de maio de 2008
0111100 1111100 1001101 001100 .

Hoje acordei com uma vontade louca de devorar palavras. Sou Saturno de Goya devorando, com os olhos, os filhos dispostos em letras. O que fazer para saciar minha vontade? Tenho 20 anos e mal tenho os dois pés nessa estrada da vida. Tenho 20 anos e vivo no ano 2008, 2009, 2010 e, por sorte, os demais 201...quero ter ou, apenas, ter a capacidade de me transportar para uma época que a leitura esteja como as primeiras atividades de entretenimento. Chega de chegar em casa com o dedo indicador espichado que, com uma inexplicável alma própria, me guia diretamente para o power da torre do computador. Pronto. As palavras binárias não me satisfazem. E agora? E agora...tenho 20 anos e, até agora, meus dedos tatearam mais os botões do teclado do que páginas de livros. To com a fome acumulada. Anos sem ler boas páginas materiais, sem sentir o cheiro de um livro aberto, sem ter o prazer de acabar um livro, ou de ter pena de terminar um bom livro. O sonho da razão produz monstros – racionalizar meu vazio só me torna mais cavo. 127 V e 60W esperam ser ligados na sala, perto do sofá, com o dedo indicador de outrora descerrar-se-á o livro. Aberta, a boca míngua espera, aflita, para devorar cada palavra.